− Pai…
− Cale a
boca, Amanda! Vocês conseguiram me tirar do sério! Tereza, Rodolfo... Mais
alguém morreu e eu devo saber?
Cris
olhou para Poncho e respondeu sussurrando:
− Faltou
o Poncho.
− Fique
quieto. Eu…
A
campainha tocou. Marília e Carlos se entreolharam.
− Vocês
convidaram alguém para participar da nossa festinha particular? – perguntou
Carlos dando uma risada sinistra.
Temendo
alguma reação do pai, Amanda recuou alguns passos e disse:
− Eu… É
melhor eu ir ver quem é.
Um minuto
depois Amanda retornou acompanhada de dois homens jovens. Carlos não reparou o
quanto a filha estava pálida. Ainda segurando a pá, ele a cravou com força na
terra e perguntou para Amanda em altos brados:
− Quem
são estes caras, Amanda?
Um deles
respondeu:
− Somos
da polícia, senhor – e estendeu a carteira funcional para Carlos.
−
Polícia? – Carlos tentou ganhar tempo. Discretamente ele largou a pá, mas ela
bateu em uma pedra fazendo o maior barulhão. – Muito prazer – Ele se aproximou
deles estendendo a mão amistosamente. Que diabos era aquilo afinal?
− Recebemos
uma denúncia anônima.
− É
mesmo?
Somente
Carlos falava. Amanda, os gêmeos e Marília se postaram um ao lado do outro,
mudos e gelados, esperando o pior.
−
Relataram que há um corpo aqui – os olhos dos dois policiais se dirigiram para
onde a terra já estava remexida.
− Um
corpo?
Carlos
deu sua risada apavorante. Colocou as mãos na cintura e olhou para a família
procurando apoio.
− Eles
estão dizendo que tem um corpo aqui.
André
apontou para onde Poncho jazia e perguntou:
− Serve
aquele?
Os olhos
de todos focaram no corpo do cachorro morto.
− Bem,
como vocês podem ver – Carlos sentiu-se dono da situação outra vez, − há um
corpo nesta casa. Meu cachorro Poncho teve um ataque cardíaco e caiu duro.
Quando vocês chegaram aqui estávamos debatendo o que fazer com ele. Aliás,
iremos enterrá-lo aqui no jardim.
− Pedimos
desculpas, senhor – falou um dos policiais. – Meus pêsames.
− Ah,
tudo bem. Amanda leve os senhores até a porta, por favor.
Quando a
garota retornou encontrou o pai cavando desesperadamente a cova de Tereza.
Assustada, ela indagou baixinho:
− Pai,
eles podem voltar. Vamos dar um tempo.
− Tempo
coisa nenhuma. Pra mim chega. Chega mesmo! André, acenda a churrasqueira.
A
conversa era feita quase aos sussurros. André prontamente fez o que o pai pedia
enquanto Marília, nervosa, aproximou-se do marido para perguntar:
− O que
você está pretendendo, Carlos?
− Não
vamos mais correr riscos. E não fale nada. Aliás, estão todos proibidos de
falar aqui.
Assim que
Carlos avistou o cobertor cor-de-rosa, pediu que um dos filhos alcançasse uma
máscara e a luva cirúrgica. Um cheiro terrível tomou conta do ar quando Carlos
pegou o saco preto e envolveu Tereza nele. Todos deram passagem quando o homem
colocou os restos da empregada em um carrinho de mão e se dirigiu até a
churrasqueira.
− André,
coloque o cachorro no buraco. Agora.
Enquanto
André e Cris levavam Poncho até o buraco, cobrindo-o com a terra, Tereza
queimava na churrasqueira. Amanda e Marília assistiam a tudo abraçadas e
chocadas. Os gêmeos mantiveram uma boa distância do pai, por via das dúvidas. O
fedor impregnou o ar e Cris cutucou o irmão:
− Daqui a
pouco a polícia vai voltar.
Carlos,
prestes a ter um surto, começou a fazer a dança da chuva. Marília, abismada com
o comportamento irracional do marido, perguntou:
− Posso
saber o que você está fazendo, homem?
− Se não
chover logo, estaremos fodidos. O fedor vai chegar até a delegacia e todos
seremos presos! Rá! Todos nós!
De fato
começou a chover em pouco tempo, amainando o cheiro ruim. Depois que Tereza
virou pó, Carlos juntou tudo, colocou em uma vasilha e parou em frente a todos.
E declarou:
− Aqui
jaz a amiga de vocês de tantos anos. Aquela que, inadvertidamente, resolveu se
meter na briga dos meus dois filhos imbecis e se deu muito mal. Viva Tereza!
Carlos
jogou as cinzas da empregada sobre Cris e André, deu a sua risada mais sinistra
de todos e entrou na casa cantarolando. Marília murmurou:
− Se eu
matar o pai de vocês, alguém me ajuda a abrir uma cova?
Nenhum comentário:
Postar um comentário