Eram onze
horas da manhã quando o celular de Marília tocou. Naquele momento ela estava na
cozinha tentando preparar o almoço da família. Tereza estava fazendo muita
falta naquela casa. E o pior de tudo é que enquanto houvesse o corpo enterrado
no jardim, não podia se dar ao luxo de contratar outra empregada. Vida cruel.
− Oi,
Carlos. Seja rápido. Acabei de queimar o arroz e…
− Seu
Rodolfo morreu.
− Quem? O
jardineiro? – Marília desligou todas as chamas do fogão e sentou em uma cadeira
da cozinha, atordoada. – Morreu como?
−
Atropelado. Acabei de ler na internet. Foi hoje de manhã.
− Mas…
você tem certeza que é ele?
Carlos se
mostrava nervoso ao telefone.
− Sim. É
ele. Você acha que…
Ele
interrompeu a frase. Marília, ainda sem entender o que o marido queria dizer,
insistiu:
− Acho o
quê, Carlos? O que você está tentando dizer?
− Você
acha que um dos meninos poderia… Bem, um deles ou dois poderiam ter…
Marília
sentiu o mundo rodar. Se não estivesse sentada, talvez tivesse desabado no
chão.
− Não!
Eles não seriam capazes disto!
Ou
seriam?
*
Quando
André e Cris chegaram da faculdade pontualmente às 12h30min se depararam com os
pais sentados no sofá aguardando-os com ansiedade. A expressão deles era
terrível.
− E aí,
gente – cumprimentou André para só depois se dar conta que algo estava errado. –
Ué, o que houve? Morreu alguém?
Carlos
não deixou por menos.
− Talvez
você possa nos dizer – e apontando para Cris. – Ou você.
Os irmãos
se entreolharam sem entender absolutamente nada.
− Ei,
espera aí! – exclamou Cris ficando nervoso. – Fale abertamente. Qual a desgraça
da vez?
− Seu
Rodolfo morreu esta manhã.
− Puxa,
sinto muito – falou André disfarçando seu alívio. – Mas o que nós temos a ver
com isto?
− Me
respondam com franqueza – exigiu Carlos ficando em pé e encarando os filhos de
igual para igual. – Foi um de vocês?
− Claro
que não – retrucou André rapidamente.
Cris
perguntou muito pálido.
− Ele
morreu como?
− Foi
atropelado hoje de manhã cedo – esclareceu Marília um pouco mais tranquila. Os
meninos não podiam estar mentindo. – Saiu em um site de notícias e o pai de
vocês o reconheceu pelo nome.
− Me
admiro, mamãe – André fingiu estar muito ofendido, − que vocês dois tenham
desconfiado de nós.
− Tudo
bem, desculpe – pediu Carlos passando a mão nos cabelos, tentando recuperar a
serenidade. – Desculpem, garotos. É que esta história nos perturbou demais. Eu
vou resolver tudo. Estou pensando em uma maneira de tirarmos o corpo da Tereza
daqui e pôr um fim nisto tudo.
− Não
vejo a hora – suspirou Marília.
− Nós
também – retrucaram em uníssono os gêmeos.
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