A festa
foi um sucesso. No final do dia Carlos, Amanda e Marília se reuniram na sala de
estar para relembrarem os melhores momentos. Os gêmeos bem que tentaram se integrar,
mas era impossível. Poncho estava solto no jardim naquele momento a mando de
Carlos, que ficara indignado quando descobriu que o cachorro havia ficado preso
no quarto de André por tantas horas seguidas. Seguidamente André ou Cris iam
até a cozinha pegar um copo de água. Na verdade, aquilo era um disfarce para
saber o que Poncho estava fazendo. Para alívio de ambos, o cão dormia
tranquilamente na área de serviço sem dar maior importância ao corpo enterrado
no jardim.
- Ainda
bem que ele está com sono… - suspirou Cris quando André apareceu subitamente ao
seu lado na cozinha.
- E se a
gente colocasse um dos calmantes da mamãe na ração dele até a gente se livrar
do corpo?
- Acho
uma boa ideia. Mas precisamos nos livrar da Tereza o quanto antes. Ninguém fica
desaparecido tanto tempo sem que alguma suspeita seja levantada.
- Teremos
que nos revezar para controlar o Poncho – disse André baixinho e olhando para
os lados para ver se ninguém estava se aproximando. – Você vai para a faculdade
pela manhã e eu vou à tarde. Neste meio tempo pegamos o Poncho e levamos para a
rua. Vou tentar encontrar onde mamãe coloca as pílulas para dormir.
-
Combinado – concordou Cris ligeiramente apavorado. Aquele pesadelo parecia não
ter fim.
*
Quando
Cris chegou em casa da faculdade logo depois do meio dia escutou uma voz
diferente na sala. Com um mau pressentimento, ele entrou devagar e se deparou
com a mãe conversando com um homem de aparência humilde, sentado na ponta do
sofá, parecendo desconfortável. De André, nem sinal.
- Bom dia
– cumprimentou ele jogando a mochila no chão, sabendo que seu dia a partir dali
não seria tão bom assim.
- Cris,
venha cá – disse a mãe com um tom de voz preocupado. – Sente aqui conosco.
Sem
sentir as pernas, ele se arrastou até onde a mãe estava e arriou no sofá
esperando o pior.
- Este
senhor aqui é o Bráulio, irmão da Tereza.
- E aí,
Bráulio? Tudo em cima? Mãe, cadê o André?
- Seu
irmão está desaparecido com o Poncho desde as nove horas da manhã – respondeu
Marília impaciente. – Você quer fazer o favor de se concentrar? O Bráulio está
aqui porque a Tereza saiu daqui de casa aquele dia e não voltou para a dela.
Bráulio
sacudiu a cabeça levemente, confirmando aquela situação. Cris se sentiu
empalidecer de puro medo. Marília acreditou que a reação do filho fosse somente
susto.
- Sim,
meu filho. Estamos todos assustados. Aliás, eu estou surpresa. Tereza não é de
fazer isto!
-
Senhora, minha irmã ía de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Nos
domingos ela somente chegava na igreja rapidinho e só. Mas ela sumiu.
Marília
se virou para o filho e perguntou firmemente:
- Naquele
dia ela recebeu um telefonema e saiu? Foi isto que aconteceu?
- Eu…
sim, foi. Quer dizer, deve ter sido. Ouvi o celular dela tocar.
Bráulio
interviu.
- Senhora,
tudo isto é muito esquisito. Somente eu tinha o número dela.
- Esta é
uma história bem estranha mesmo, Bráulio – concordou Marília, enquanto Cris mal
respirava. – Mas pelo visto ela passou o número para outra pessoa. Talvez um
namorado.
Cris
resolveu dar o ar da sua graça.
- Para
ela sair correndo daquele jeito só pode ter sido homem.
Marília e
Bráulio o olharam de cara feia. Cris tentou consertar:
- Mas não
pode ser?
- Não,
não pode – retrucou Bráulio enfezado. – Minha irmã não era destas coisas.
Marília
se levantou bruscamente.
- Espere
aí, Bráulio. Não estou gostando desta história. Vou pegar minha bolsa e nós
vamos à delegacia mais próxima registrar uma ocorrência.
- Sim,
senhora – respondeu Bráulio um pouco nervoso.
De
repente se viram os dois sozinhos na sala de estar. Bráulio encarou Cris com
uma expressão severa como se desconfiasse de alguma coisa.
-
Situação difícil esta, não é? – comentou Cris sem saber o que fazer com as
mãos.
- Ela que
sustentava a casa, garoto. Eu não consigo serviço há dois anos.
O bafo de
cachaça vindo de Bráulio quase tonteou Cris.
- Quem
sabe você para de beber e começa a procurar trabalho? Tipo assim, só para conseguir
uma graninha?
Os punhos
de Bráulio se fecharam e Cris teve a nítida impressão que levaria um soco. Foi
salvo pelo irmão que chegou naquele momento trazendo Poncho preso pela coleira.
Sem soltar o animal, o jovem se aproximou da dupla percebendo a tensão no ar.
- Oi,
Cris. Faz tempo que você chegou?
- Agora
mesmo. Bem, este… este é o irmão da Tereza.
André
disfarçou bem sua surpresa. Estendeu a mão livre para o homem e o cumprimentou
efusivamente.
- E aí,
cara? Cadê a sua irmã?
Marília
apareceu naquele momento segurando a bolsa e a chave do carro.
-
Garotos, eu vou até a delegacia registrar uma ocorrência do desaparecimento da
Tereza. Depois irei levar o Bráulio até em casa. Preparem alguma coisa para
comerem ou passem fome. Até mais.
Bráulio
se levantou do sofá e passou reto pelos dois meninos. Quando a porta bateu e se
viram sozinhos em casa, André perguntou:
- Eu
escutei bem? Ela vai até a polícia registrar o desaparecimento da Tereza? Será
que vão investigar?
Cris
simplesmente estava branco.
- Se isto
acontecer estaremos fodidos e mal pagos.
- Calma –
André pensava rapidamente. – Vamos até o quarto da mamãe tentar achar as
pílulas para dormir e dar para o Poncho. Depois pensamos de que jeito vamos nos
livrar do corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário