André entrou de supetão no quarto de
Cris, surpreendendo-o de cueca. A calça embarrada jazia no chão.
− O que aconteceu lá fora? –
perguntou André olhando para o irmão que naquele momento pegava uma toalha para
se secar.
− Você tem certeza que quer saber?
− Ué! Claro que sim! O que houve com
a sua calça? Por que você está molhado?
Cris suspirou de puro nervosismo
antes de finalmente responder:
− Sente-se primeiro.
− Qual é! Para com este suspense!
− Aquele cachorro filho da puta
desencavou o pé da Terê.
− Como assim?
André se assustou, finalmente,
abandonando sua expressão sempre relaxada.
− Sabe aquela hora que o Poncho fez
um som estranho? Encontrei-o na cozinha com o pé da Tereza na boca.
− O quê? – André pôs as mãos
na cintura como se não acreditasse no que o irmão estava lhe dizendo. – O
Poncho desenterrou a Tereza?
− Somente o pé. Tive que jogar um
balde de água no bicho para que ele soltasse o osso. Quer dizer, o pé.
− Você fez o que com o pé?
− O óbvio. Enterrei-o de novo.
− Puxa vida, nunca pensei que o
Poncho seria capaz de fazer isto. Ele não pode ficar solto no jardim.
− E não ficou. Deixei-o preso na
casinha dele.
Os dois irmãos se encararam por
alguns segundos. André aos poucos tentava recuperar a calma, colocando a mente
desesperadamente para funcionar. Mas nenhuma ideia mirabolante lhe ocorria. Por
fim disse, tentando aparentar uma tranquilidade que estava longe de existir:
− Eu vou pensar em alguma coisa para
resolver o problema. Tente não dar na vista. Mamãe já reparou que você está
esquisito.
− Você acha normal um corpo
enterrado no seu jardim? Toda vez que chego na janela do meu quarto dou de cara
com a cova da Tereza.
− Me dê um tempo está bem?
− Quanto tempo? Até Poncho comer o
que sobrou da infeliz?
− Não seria uma má ideia. Além de
acabar com todas as provas, não precisaríamos comprar ração para ele por um bom
tempo.
André
saiu do quarto prometendo uma solução para em breve. Na verdade, o garoto não
conseguia pensar em nada. Nunca imaginara que o seu cachorro de estimação se
tornasse uma verdadeira ameaça.
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