Já eram três horas da
manhã. Gabi resolveu descer para pegar alguma coisa para comer e eu fiquei no
meu canto. Achei que grande parte já havia ido embora, pois não escutava tantos
gritos. Talvez fosse hora de eu me mandar também.
De repente ouvi risos e
gritinhos afetados. Bêbadas e drogadas, Sarah e Vanusa subiram na cobertura.
Estavam de mãos dadas e trocaram um longo beijo próximo da amurada. Filmei
tudo. Elas nem imaginavam que eu estava ali.
− Vamos voar,
Vanusaaaa!
Prendi a respiração
quando Sarah subiu na amurada e ficou em pé. Abriu os braços. Se ela desse um
passo à frente cairia 17 andares. Vanusa achou aquilo o máximo.
− Ei, não voe sem mim!
Sem nenhuma
dificuldade, Vanusa também subiu apesar de muito bêbada. Ela ligeiramente
perdeu o equilíbrio, mas se firmou logo.
− Meu mundo está
rodando! – riu ela.
As duas soltaram
gargalhadas. Era uma cena horrível. Elas poderiam despencar a qualquer momento.
Foi quando Gabi chegou.
Ela não esperava
encontrar as duas na amurada, tão expostas a saírem voando direto para o
inferno. Quando Sarah a viu, chamou com um tom debochado:
− Venha voar com a
gente, Gabizinha!!! Você é nossa amiga! É ou não é?
As duas riram. Gabi
ficou pálida e não deu nenhum passo em direção alguma.
− Somos as poderosas! –
berrou Vanusa completamente louca.
− Saiam daí! – pediu
Gabriela com a voz fraquinha. – Vocês vão cair.
− Ora, cale a boca sua
virgenzinha de merda! Vá se foder!
Gabi se encolheu e eu
saltei do meu lugar enfurecida. Saí da escuridão que me protegia e caminhei em
direção a elas lentamente. As vacas ainda não haviam me visto. De repente Sarah
olhou na minha direção. Fiz menção de que iria correr até a amurada e estendi
os braços para frente como se fosse empurrá-las.
Sarah levou um susto e
gritou. Perdeu o equilíbrio e tentou se agarrar em Vanusa. Parei imediatamente
e assisti a cena patética de camarote. Vanusa dobrou os joelhos sentindo o peso
da outra sobre si, totalmente desequilibrada. Dois segundos depois elas
despencaram da cobertura. O grito pavoroso das duas foi ouvido por mim e Gabi
até elas se estatelarem lá embaixo.
Olhei para Gabriela. Estava
em choque. Eu não. Peguei-a pelo braço e disse:
− Vamos chamar a
polícia.
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