Antes de o sinal bater,
discretamente Aline retirou a gargantilha do pescoço e colocou em cima da
classe. Nós saímos juntos com os demais e fomos para o pátio. Cinco minutos
antes de o sinal tocar novamente, Aline voltou discretamente para a sala e com
um pedaço de papel para evitar impressões digitais jogou a gargantilha dentro
da bolsa de Vanusa. Depois foi até a lanchonete onde ficou um tempo. Já eu
voltei para a sala de aula no tempo normal com o coração batendo na garganta.
Aline foi a última a entrar. A professora estava colocando as pastas em cima da
mesa quando minha amiga deu um berro. Foi tão real que dei um pulo na cadeira.
– Minha gargantilha!
Minha gargantilha sumiu!
Silêncio na classe. Eu
olhei para Aline e ela estava branca e trêmula. Uma baita atriz.
– O que foi, Aline? –
perguntou a professora.
– Eu deixei a minha
gargantilha em cima da mesa. Voltei do intervalo e ela não está mais aqui!
A professora me olhou.
Gelei.
– Você viu a
gargantilha da sua colega?
– Vi, sim – respondi
bem séria. – Quando eu saí para o intervalo ela estava bem aqui.
– E por que você a
tirou, Aline?
– Por que eu estava com
calor e ela irritou meu pescoço – Aline mostrou um vermelhão na pele. – Como eu
iria imaginar que isto fosse acontecer? Foi minha vó quem me deu antes de
morrer!
Aline estava histérica
e a classe, calada. A professora disse:
– Vou chamar a
diretora.
Em menos de um minuto a
diretora estava na sala de aula. Aline aquela altura soluçava ao meu lado,
inconsolável. Confesso que eu tremia de medo que algo desse errado. Se
descobrissem que fosse Aline a autora daquela mentira, ela seria expulsa da
escola sumariamente.
A diretora era uma
mulher horrorosa em todos os sentidos. Quando ela abria a boca a gente já sabia
que vinha chumbo grosso. Ela parou em frente da classe e cruzou os braços. Os
óculos de armação grossa a faziam parecer mais severa. Aline, ao meu lado,
fazia bem o seu papel.
– Muito bem – começou
ela com aquela voz grossa. – Alguém quer confessar antes? Ou terei que tomar
alguma medida mais drástica?
Silêncio. A mulher
olhou para Aline e perguntou:
– O que deu na sua
cabeça em deixar a gargantilha em cima da mesa?
Aline não se intimidou.
Encarou a diretora e respondeu fungando:
– Talvez eu tenha
errado. Mas errou muito mais quem a roubou de mim.
Aparentemente a
diretora concordou. Olhou novamente para a turma silenciosa e perguntou:
– Quem fez isto?
Nada.
– Bem, já que ninguém
vai confessar, vou ter que revistar pessoalmente os pertences de cada um.
Esperei algum protesto,
mas ninguém disse nada. A diretora e a professora começaram a revista. Com o
canto do olho percebi que Sarah e Vanusa estavam bem despreocupadas. Chegavam a
se cutucar e rir baixinho. Até Aline teve a mochila revistada. Mas legal mesmo
foi quando chegou a vez da Vanusa.
A diretora abriu a
bolsa da cretina enquanto ela dava risadinhas como senão estivesse nem aí.
Gracinhas que pararam imediatamente quando a diretora retirou a gargantilha e a
balançou junto aos olhos esbugalhados dela.
– Você pode me explicar
o que isto está fazendo na sua bolsa?
Sarah também
empalideceu. Vanusa olhou para a amiga prestes a desmaiar.
– Eu… eu não sei.
– Diretora, está na
cara que alguém plantou esta gargantilha na bolsa da minha amiga! – acusou
Sarah.
– Cale-se ou vou
levá-la você para a direção. E você – a diretora apontou para Vanusa que já
estava com cara de choro. – Venha comigo.
Aline as acompanhou
também e a aula recomeçou em um clima estranho. Formou-se um silêncio
constrangido e o único som que se ouvia era o de Sarah bufando. Eu rezava para
que minha amiga se saísse bem daquela ou eu teria que me acusar também. Ela só
foi aparecer minutos antes do final da aula. Não me disse nada, apenas sentou
ao meu lado. De Vanusa nem sinal.
Quando a aula acabou,
saímos as duas em silêncio. Sarah passou correndo por nós tomando o rumo da direção.
Continuamos caladas quando atravessamos o portão, enquanto caminhávamos pela rua
da escola e até atravessarmos a avenida. Olhei de canto para Aline e a flagrei
tentando segurar o riso.
− O que aconteceu lá
dentro? Estou com brotoejas.
− Na minha casa ou na
sua?
Nenhum comentário:
Postar um comentário