quarta-feira, 24 de setembro de 2014

MENINAS MÁS (parte 9)

Antes de o sinal bater, discretamente Aline retirou a gargantilha do pescoço e colocou em cima da classe. Nós saímos juntos com os demais e fomos para o pátio. Cinco minutos antes de o sinal tocar novamente, Aline voltou discretamente para a sala e com um pedaço de papel para evitar impressões digitais jogou a gargantilha dentro da bolsa de Vanusa. Depois foi até a lanchonete onde ficou um tempo. Já eu voltei para a sala de aula no tempo normal com o coração batendo na garganta. Aline foi a última a entrar. A professora estava colocando as pastas em cima da mesa quando minha amiga deu um berro. Foi tão real que dei um pulo na cadeira.

– Minha gargantilha! Minha gargantilha sumiu!

Silêncio na classe. Eu olhei para Aline e ela estava branca e trêmula. Uma baita atriz.

– O que foi, Aline? – perguntou a professora.
– Eu deixei a minha gargantilha em cima da mesa. Voltei do intervalo e ela não está mais aqui!

A professora me olhou. Gelei.

– Você viu a gargantilha da sua colega?
– Vi, sim – respondi bem séria. – Quando eu saí para o intervalo ela estava bem aqui.
– E por que você a tirou, Aline?
– Por que eu estava com calor e ela irritou meu pescoço – Aline mostrou um vermelhão na pele. – Como eu iria imaginar que isto fosse acontecer? Foi minha vó quem me deu antes de morrer!

Aline estava histérica e a classe, calada. A professora disse:

– Vou chamar a diretora.

Em menos de um minuto a diretora estava na sala de aula. Aline aquela altura soluçava ao meu lado, inconsolável. Confesso que eu tremia de medo que algo desse errado. Se descobrissem que fosse Aline a autora daquela mentira, ela seria expulsa da escola sumariamente.

A diretora era uma mulher horrorosa em todos os sentidos. Quando ela abria a boca a gente já sabia que vinha chumbo grosso. Ela parou em frente da classe e cruzou os braços. Os óculos de armação grossa a faziam parecer mais severa. Aline, ao meu lado, fazia bem o seu papel.

– Muito bem – começou ela com aquela voz grossa. – Alguém quer confessar antes? Ou terei que tomar alguma medida mais drástica?

Silêncio. A mulher olhou para Aline e perguntou:

– O que deu na sua cabeça em deixar a gargantilha em cima da mesa?
               
Aline não se intimidou. Encarou a diretora e respondeu fungando:

– Talvez eu tenha errado. Mas errou muito mais quem a roubou de mim.

Aparentemente a diretora concordou. Olhou novamente para a turma silenciosa e perguntou:

– Quem fez isto?

Nada.

– Bem, já que ninguém vai confessar, vou ter que revistar pessoalmente os pertences de cada um.

Esperei algum protesto, mas ninguém disse nada. A diretora e a professora começaram a revista. Com o canto do olho percebi que Sarah e Vanusa estavam bem despreocupadas. Chegavam a se cutucar e rir baixinho. Até Aline teve a mochila revistada. Mas legal mesmo foi quando chegou a vez da Vanusa.

A diretora abriu a bolsa da cretina enquanto ela dava risadinhas como senão estivesse nem aí. Gracinhas que pararam imediatamente quando a diretora retirou a gargantilha e a balançou junto aos olhos esbugalhados dela.

– Você pode me explicar o que isto está fazendo na sua bolsa?

Sarah também empalideceu. Vanusa olhou para a amiga prestes a desmaiar.

– Eu… eu não sei.
– Diretora, está na cara que alguém plantou esta gargantilha na bolsa da minha amiga! – acusou Sarah.
– Cale-se ou vou levá-la você para a direção. E você – a diretora apontou para Vanusa que já estava com cara de choro. – Venha comigo.

Aline as acompanhou também e a aula recomeçou em um clima estranho. Formou-se um silêncio constrangido e o único som que se ouvia era o de Sarah bufando. Eu rezava para que minha amiga se saísse bem daquela ou eu teria que me acusar também. Ela só foi aparecer minutos antes do final da aula. Não me disse nada, apenas sentou ao meu lado. De Vanusa nem sinal.

Quando a aula acabou, saímos as duas em silêncio. Sarah passou correndo por nós tomando o rumo da direção. Continuamos caladas quando atravessamos o portão, enquanto caminhávamos pela rua da escola e até atravessarmos a avenida. Olhei de canto para Aline e a flagrei tentando segurar o riso.

− O que aconteceu lá dentro? Estou com brotoejas.

− Na minha casa ou na sua?

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