Gabriela se voltou imediatamente para trás. Era Sarah. Vanusa estava
ao seu lado, ambas a alguns metros de distância de nós.
− Olá, meninas!
Minha amiga se tornou imensamente ridícula de um segundo para o
outro. Como da outra vez, me deixou plantada e foi correndo em direção a elas.
− Gabriela, vamos ao shopping?
Foi Vanusa quem fez o convite. Eu quase me intrometi e disse que
não, Gabi já tinha combinado de me ensinar o conteúdo de matemática para a
prova de amanhã. Porém, esperei calmamente (se é que isto era possível) que
Gabi respondesse por conta própria.
− Ao shopping?
Ela estava de costas, mas tive certeza que os olhos brilharam com
aquele convite sensacional.
− Sim! Você tem algo melhor para fazer? Nós vamos almoçar e depois
treinar. Lembra que agora você faz parte do time?
Time. Não era apenas o “time” de vôlei. Havia uma conotação maior para
aquela frase e que Gabi perfeitamente entendeu.
− Claro que quero! Puxa, eu adoraria!
Deslumbramento total. Era assim que Gabriela se sentia quando saiu
caminhando ao lado delas na direção oposta. Eu fiquei parada na calçada por um
minuto inteiro, tentando absorver aquela cena. Senti-me uma idiota. Muito idiota.
Parecia que a escola inteira havia visto minha vergonha de ter sido preterida
na frente de todo mundo. Na verdade não sei se alguém deu bola para mim. Nunca
fui popular para alguém reparar na minha figura. Talvez fosse por isto que Gabi
estivesse se bandeando para o outro lado. Porque comigo tudo era muito sem
graça.
Eu fiquei tão triste que não tive sequer vontade de berrar chamando
Gabi de volta e cobrar o compromisso que ela tinha firmado comigo. Simplesmente
dei as costas e saí de fininho. Já tinha perdido completamente a fome quando
cheguei em casa e a macarronada e a sobremesa ficaram intactas. Minha mãe com
certeza ficaria muito decepcionada, porém era impossível comer sentindo uma
bola na barriga. Chorei desta vez sentada no sofá, socando as almofadas e
batendo os pés no chão. Eu podia esperar qualquer coisa de Vanusa e Sarah, nunca
aquela traição de Gabi.
Depois de uma hora chorando e com os músculos da face doloridos,
resolvi tomar uma atitude e estudar matemática sozinha. Aliás, eu não tinha
alternativa. Não sabia direito o conteúdo e não podia ficar aos prantos a tarde
toda. Peguei meus cadernos, livros e internet e mergulhei a fundo nos
conteúdos. Alguma coisa tinha que dar certo.
*
Quando minha mãe chegou em casa me encontrou de banho tomado e com a
matéria na ponta da língua. Ela estava prestes a preparar o jantar quando se
deparou com o almoço intacto. A mousse inteirinha, algo inédito. Eu estava na
sala, com o notebook no colo, quando ela perguntou abismada:
− Vocês não almoçaram aqui hoje?
Não tive coragem de olhar para minha mãe. Fazendo de conta que
estava super concentrada na internet respondi:
− A Gabi não pôde vir, mãe.
− E você não almoçou?
− Comi um salgado na escola que me embrulhou o estômago – menti. –
Mas agora estou melhor.
Na verdade minha barriga roncava. Eram sete horas da noite e percebi
que não comia nada desde as sete horas da manhã.
− Gabi não pôde vir? E como você estudou?
− Dei um jeito, mãe. E acabei aprendendo a matéria sozinha.
Minha mãe foi fazer suas coisas e me deixou sozinha. Fui futricar no
Face de Gabi e levei um choque. Na página de Gabi havia mais de dez fotos suas
com Vanusa e Sarah, tanto no shopping como no treino. Todas felizes. O pior de
tudo foi ler o que Gabi postou: melhores
amigas.
Meu Deus, que nojo. Era inacreditável. Até três dias atrás Gabi era
minha eterna amiga. Nada poderia nos separar. Eu nunca pensei que houvesse algo
com força suficiente para isto. Mas quando olhava para Sarah e Vanusa naquelas
fotos senti que era praticamente impossível lutar contra aquelas duas.
Elas já tinham roubado minha melhor amiga.
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