Nem dormi direito.
Me acordei muda e saí de casa calada. Não havia motivos para eu passar na casa
de Gabi, por isto aumentei o caminho para nem chegar perto do prédio daquela
ridícula. Por causa disto cheguei atrasada uns cinco minutos e o professor já
estava em sala de aula. Apesar de tudo, não imaginei que o lugar ao meu lado –
o lugar de Gabi – pudesse estar vazio. Mas estava. De relance eu a enxerguei
sentada próximo à Sarah e Vanusa. Parecia bem satisfeita em estar pertinho das
suas novas amigas. Engoli em seco, fiz que não vi nada e me sentei dura na
cadeira, totalmente desconfortável.
Mesmo sendo eu uma
pessoa insignificante na turma, parecia outra vez que todos os olhos estavam
grudados em mim. O lugar vazio deixado por Gabriela também havia aberto um
rombo no meu peito. Fiz força para não chorar de vergonha, mágoa e raiva. Eu
tinha uma bola dentro do peito prestes a fazer “bum”. Embora eu não ligasse
para o que os outros pensassem, eu não podia deixar de imaginar o que meus
colegas deveriam estar achando daquilo tudo. Paula havia sido abandonada por
Gabi. Gabi preferira a amizade de Sarah e Vanusa. Logo, Paula devia mesmo ser
uma enorme chata.
Aguentei firme até o
intervalo. Aliás, temia justamente isto. Eu ficaria sozinha por vinte minutos,
talvez os mais longos da minha vida. Podia buscar a companhia de outras
colegas, mas isto significava responder a algumas perguntas. Eu não estava
disposta. Era melhor ficar sozinha. Assim eu podia pensar melhor.
Quando o sinal tocou
eu fui a primeira a sair da sala. Passei na lanchonete, peguei um copo de refri
e me isolei nos fundos da escola. Tive vontade de chorar, mas aguentei firme.
Chegar com os olhos vermelhos na sala de aula nem pensar.
Eu estava de cabeça
baixa quando ouvi passos. Tive uma leve esperança que fosse Gabi vindo pedir
desculpas.
− E aí...
Olhei para cima. Era
Aline, a criatura mais estranha da escola e minha colega de turma. Nunca
havíamos trocado um “oi” na vida.
− Tudo bem? – falei
meio sem jeito.
Aline sentou do meu
lado. Ela era pequena e magra e usava óculos fundo de garrafa. Era tão quieta
que eu não tinha como avaliar se era boa ou má companhia.
− Você não está bem.
Sei exatamente o que está sentindo. Também não gosto de passar os intervalos
sozinha. E nem tenho ninguém para sentar ao meu lado.
Eu a encarei.
− Achei que você
tivesse acostumado com isto.
Ela balançou a
cabeça.
− Tem certas coisas
que a gente não se habitua nunca.
Ficamos em silêncio.
− Também não gosto
delas.
− Gabi me descartou.
Parece inacreditável que jogou fora uma amizade de sete anos.
− Não se engane. Ela
nunca foi sua amiga. Se você fosse importante, ela não teria lhe trocado.
Cruzes, engoli em
seco. Seria verdade aquilo? Meu coração doeu.
− Tenho tanta raiva
que não dá para explicar – confessei amassando a latinha de refri com o pé. – A
vontade que tenho é de socar as três.
− Então faça isto.
− Como?
Aline me olhou
através dos óculos de lentes grossas.
− Vingue-se. Elas
merecem.
Vingança. E por que
não?
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