Chegamos apressadas no banheiro onde Gabriela lavou as mãos e o rosto. Eu parei ao lado dela e estendi algumas toalhas de papel. Ela confessou super orgulhosa de si mesma:
− Foi o melhor jogo da minha
vida! Imagine, com as minhas parcerias não poderia ser diferente!
Antes que eu conseguisse
responder à altura, Sarah e Vanusa entraram no banheiro. Elas andavam sempre
juntas, acho que era pior que eu e Gabi. De repente aquelas vozes afetadas e de
gralhas inundaram o ambiente e eu quase coloquei as mãos no ouvido para não ter
que escutá-las. Ao verem Gabi, elas a cercaram imediatamente. Fui posta de
lado. Eu não existia mais para nenhuma delas.
− Ei, nossa jogadora revelação!
– exclamou Sarah com seu batom mais vermelho que os cabelos de Vanusa. Parecia
uma prostituta.
− Garota, por que você não disse
que jogava tão bem?
Enojada, eu percebi o rosto de
Gabi ficar rosado de pura satisfação. Ela estava se sentindo uma estrela no
meio delas.
− Eu adoro jogar vôlei! Mas o
time de vocês já está fechadinho, por isto nunca pedi para entrar.
Nem eu sabia disso. Aliás,
aquilo era uma baita mentira. Gabi tinha medo de ir para quadra e passar
vergonha e sempre que podia dava um jeito de fugir.
− Pare com isto! – exclamou
Vanusa. – Quer jogar com a gente? Nossa colega nos deixou na mão. Tem lugar
para você agora.
Era quase uma intimação, eu percebi.
Sarah emendou:
− Você é ótima, garota. Olha só,
nós treinamos no ginásio da escola três vezes por semana. Daqui a dois meses
irá começar o campeonato interescolar. Quer fazer parte da nossa equipe?
Quase vomitei. Juro, cheguei a
olhar para o lado procurando uma cesta de lixo. Os olhos de Gabi brilharam.
− Nossa, eu quero sim! É meu
sonho!
Sonho? Como assim, sonho? Tive
vontade de me meter naquela conversa e acabar com tudo. Porém, confesso, não
tive coragem. Eu estava em minoria. Foi então que algo surpreendente aconteceu.
Sarah pegou o braço de Gabriela, abriu a porta do banheiro e a puxou para fora.
Me vi sozinha ali olhando para as paredes, enjoada com o perfume doce que foi
deixado no ar.
Eu não queria acreditar no que
estava acontecendo. Minha BFF havia me deixado sozinha, me preterindo para
ficar com aquelas vacas? A raiva foi tanta que senti as lágrimas subirem aos
meus olhos. Gabi tinha me deixado de lado!
Esperei mais um minuto ou dois
para me acalmar. Eu sabia o que acontecia quando me irritava. Perder o controle
era muito fácil para mim. E eu não podia mostrar o quanto aquela atitude de
Gabi havia me atingido. Quando me senti segura, abri a porta do banheiro, ergui
a cabeça e caminhei até a sala de aula. A professora ainda não havia chegado.
Deparei-me com Gabi do outro lado da sala em risinhos e conversas com as garotas.
Abri um caderno e fiz de conta que repassava a matéria. Mas meus sentidos
estavam todos ligados tentando captar alguma coisa.
Gabi só voltou para o meu lado
quando a professora entrou e mandou todos para os seus lugares. Ela sentou, a
boca escancarada de tanta felicidade. Sim, era felicidade o que minha amiga
sentia. Ela simplesmente estava no céu.
− Você viu o que aconteceu?
− O quê? – perguntei olhando o
caderno e não enxergando uma linha sequer.
Sussurrando para não chamar a
atenção da professora, ela contou:
− Vou jogar com elas!
Não olhei para Gabi. Aliás, não
consegui encará-la mais até o final da aula.
− Parabéns – respondi secamente.
Reparei que Gabriela ficou
surpresa com meu jeito. Ela era tão bobinha que talvez não tivesse se dado
conta o quanto eu estava magoada.
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