Era sábado de tarde e
eu estava sem ter o que fazer. Naquele final de semana Aline havia ido viajar
com os pais, o que significava que eu estava abandonada. Meus pais saíram para
visitar uma tia doente e eu liguei a televisão para tentar assistir algum
programa. Desliguei em seguida. Não havia nada que prestasse.
Dei um pulo quando
meu celular tocou. Eu já estava meio que dormindo no sofá. Mais surpresa eu
fiquei quando constatei quem era.
Gabi.
E agora?
− Alô? – nem sei por
que atendi a porra daquela ligação.
− Paulinha, eu
preciso muito falar com você.
Gabriela entrou
rachando, quase nem me deu tempo para respirar. E parecia ansiosa. Bem ansiosa.
− O que você quer?
− Falar com você.
− Fale então.
− Me deixe ir na sua
casa. Por favor – gemeu ela.
Parecia ser uma coisa
importante. E eu fiquei curiosa.
− Tudo bem. Pode vir.
− Já estou aqui
embaixo. Diga para o porteiro me deixar subir.
Cada dia uma
surpresa. Em poucos minutos ela estava parada no meio da sala retorcendo as
mãos. Não estava chorando, pelo menos ainda. Mas sua expressão era horrível.
− O que você tem para
me dizer, Gabriela? – perguntei sem muita paciência.
Ela se sentou ao meu
lado e pôs a cabeça entre as mãos. Me perguntei se tudo aquilo não seria um
teatro.
− Acho que fiz uma
baita cagada.
− Jura? Acho que você
fez várias – retruquei cínica.
Gabi me encarou e a
partir daquele momento comecei a acreditar que ela estava realmente falando
sério.
− Eu não devia ter me
bandeado para o lado delas.
− Mas não pensou duas
vezes antes de acabar com nossa amizade.
− Oh, Paulinha, se
você soubesse o quanto me arrependo...
Lágrimas vieram aos
olhos dela. O papo começou a me interessar.
− E se você soubesse
como eu me senti.
− Elas não são como
você, Paulinha – revelou Gabi, cada vez mais torcendo as mãos. – Sarah e Vanusa
são más. Sinto muito pelo seu pulso.
− Não pense que isto
ficará em branco.
− Desculpe por tudo,
Paula. Desculpe mesmo. Mas eu não pude resistir. Elas são super descoladas.
Estão por dentro de tudo o que acontece. Festas, garotos, movimento. Eu queria
mais. Queria a popularidade delas.
− Desculpe por minha
amizade ser tão pouca coisa para você.
Fiquei magoada com as
coisas que Gabi me disse. Ela só faltou dizer que eu não era uma garota
interessante. Ela tentou se explicar:
− Nunca foi pouca
coisa. Você só é diferente delas. Você… é melhor que elas.
− Se sou melhor que
elas, porque você não manda aquelas vacas à merda e fica minha amiga de novo?
− Eu não consigo.
Tenho um pouco de medo delas, sabe?
− Você é mesmo muito
fraquinha, Gabriela – eu praticamente cuspi aquelas
palavras. – Como eu sou idiota. Por alguns segundos
até achei que podia lhe perdoar. Na verdade você é tão vazia quanto elas. Não
quero mais voltar a ser sua amiga.
Levantei e fui direto
abrir a porta do apartamento. Gabi foi atrás de mim agora chorando.
− Vim aqui me
humilhar e você parece não estar nem um pouco se importando com meus sentimentos.
− E você se preocupou
comigo alguma vez quando me deixou plantada no banheiro falando sozinha ou me
deixando na mão para alguma prova? Você foi extremamente egoísta este tempo
todo. Sarah e Vanusa são péssimas companhias e sinto pena de você por ter
descoberto isto tão tarde. Agora suma daqui. Vá ficar com suas amigas, as
festas, os garotos e o que mais elas podem lhe dar.
Gabi enxugou as
lágrimas e saiu sem olhar para trás. Fechei a porta e me joguei no sofá. Chorei
também. Talvez eu não tivesse nada mesmo interessante para oferecer a ponto de
minha melhor amiga procurar outras parcerias.
Nossa, eu devia ser
muito chata.
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