Claudia desviou
o olhar rapidamente, em pânico. Ela não podia se perder naquele olhar ou
estaria perdida para sempre. Para completar, não havia sinal de Lara em lugar
nenhum. A irmã havia desaparecido, talvez nunca tivesse estado mesmo por ali.
Ou pior de tudo, aquilo poderia ter sido uma armadilha para atrair Claudia,
deixando sua mãe sozinha.
Raios e trovões
tiraram Claudia do seu pavor anestesiante. As pernas que pareciam grudadas no
chão, de repente se moveram em um passo incerto para frente. Sem voltar seus
olhos na direção que estaria o vampiro, Claudia começou a caminhar apressadamente.
Depois, quando sentiu que podia andar mais depressa, iniciou uma corrida
desesperada até seu prédio. Perdeu o vampiro de vista. Quem sabe fosse tudo sua
imaginação?
Mas ele apareceu
de repente na mesma calçada, a alguns metros à frente. A capa preta rodava ao
sabor do vento da tempestade que se aproximava. Claudia parou ao vê-lo e perdeu
o equilíbrio, se estatelando na calçada. O joelho sangrou. O vampiro não podia
ver aquele sangue...
Os cabelos
compridos dele emolduravam um rosto forte e de traços marcantes. Claudia pôde
escutar o coração batendo acelerado ao mesmo tempo em que dizia para si mesma
“não olhe para ele, não olhe para ele.” Um pedido praticamente impossível. O
desgraçado era lindo demais.
Ainda assim
Claudia fez um esforço enorme e conseguiu ficar em pé. Atravessou a rua e foi
parar do outro lado. O uivo do vento era aterrador e seu prédio ainda estava um
pouco distante. Tinha dúvidas se conseguiria chegar até lá. O vampiro não
parecia estar disposto a permitir isto.
Claudia
recomeçou sua corrida, agora com mais dificuldade, puxando uma perna. Não havia
ninguém na rua, nenhum carro passava. Quando entre lágrimas conseguiu fixar
seus olhos à frente, identificou Lara. A irmã lhe acenou ou algo parecido. E
sumiu nas sombras da noite.
- Lara! Lara, me
espere!
O vampiro
desapareceu, Claudia reparou olhando de soslaio para os lados. Ela tentou
respirar enquanto chorava. Tentou gritar mais uma vez, porém a voz saiu fraca
demais:
- Lara, diga que
não é verdade!
Claudia deu mais
alguns passos, sentindo o sangue escorrer pela perna. O vampiro apareceu outra
vez, acompanhando-lhe do outro lado da rua. Por mais que ela corresse, a criatura
estava sempre ao seu lado, com passos calmos. Algumas vezes Claudia caiu e
esfolou as mãos. Nestes instantes horríveis teve certeza que o vampiro iria
saltar sobre ela e cravar os caninos afiados no seu pescoço. Contudo, isto não
aconteceu. Aos trancos e barrancos, Claudia finalmente chegou à entrada do
prédio, cansada e machucada. O porteiro a encarou da recepção. Era a primeira
pessoa que via desde que saíra atrás de Lara.
- Por favor, me
ajude – implorou Claudia aproximando-se dele. – Ligue para a polícia e diga
que…
O homem sorriu
para ela. Mas aquele não foi um sorriso normal. Os caninos se destacaram nos
cantos da boca e ele fez menção de tocar em Claudia.
Ela gritou. O
berro ecoou pelo prédio, mas ninguém veio ver o que era. Talvez todos seus
vizinhos já estivessem sido transformados em vampiros. Este pensamento
aterrorizou Claudia, que tomou o rumo do seu apartamento temerosa do que iria
encontrar. Se não fosse por sua mãe, jamais colocaria os pés lá novamente.
Ainda tinha esperança de salvá-la.
A porta foi
aberta bruscamente. A sala estava vazia e com todas as luzes acesas. Julia
apareceu sorridente vinda do quarto.
- Oh, querida!
Como demorou!
- Eu não
encontrei Lara, mãe… - mentiu ela, pegando-a pelo braço. – Venha, temos que ir
embora daqui.
Julia, porém,
resistiu. Soltou-se de Claudia e replicou muito feliz:
- Agora está
tudo bem, Claudinha. Você não precisa mais se preocupar com Lara.
Claudia
empalideceu. Lara apareceu de repente ao seu lado e colocou uma das mãos no
ombro da irmã. Claudia deu um pulo para o lado. Lara estava gelada.
- Onde você
esteve o tempo todo? – sussurrou Claudia recuando alguns passos.
Lara sorriu e
Claudia reparou nos caninos. Eles estavam crescidos. Em pânico, olhou para a
mãe e gritou:
- Mãe, ela é uma
vampira! Vamos embora daqui!
Julia sorriu e
desta vez Claudia percebeu que tudo estava perdido. Os caninos da mãe pareciam
mais pontiagudos que os de Lara. Jamais poderia lutar contra duas vampiras.
- Afastem-se de
mim! – bradou Claudia colocando uma das mãos dentro da blusa. O crucifixo
estava pendurado no pescoço. Mais um pouco e…
Lara se
aproximou de repente, mas Claudia foi mais rápida. Estendeu a cruz em direção a
ela, colocando-a muito próximo da testa da vampira. Tanto Julia como Lara
soltaram gritos pavorosos, encolhendo-se no chão. Aquela era a chance, pensou
Claudia. Tinha que aproveitar a chance em que elas estavam abatidas para sair
correndo dali.
Claudia
voltou-se para a porta, pronta para desaparecer daquele inferno e nunca mais
voltar. Não deu sequer dois passos. O choque com o vampiro foi tão forte que
Claudia caiu desmaiada no outro lado da sala.
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