quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O SUMIÇO DE LARA - parte 5


Claudia desviou o olhar rapidamente, em pânico. Ela não podia se perder naquele olhar ou estaria perdida para sempre. Para completar, não havia sinal de Lara em lugar nenhum. A irmã havia desaparecido, talvez nunca tivesse estado mesmo por ali. Ou pior de tudo, aquilo poderia ter sido uma armadilha para atrair Claudia, deixando sua mãe sozinha.

Raios e trovões tiraram Claudia do seu pavor anestesiante. As pernas que pareciam grudadas no chão, de repente se moveram em um passo incerto para frente. Sem voltar seus olhos na direção que estaria o vampiro, Claudia começou a caminhar apressadamente. Depois, quando sentiu que podia andar mais depressa, iniciou uma corrida desesperada até seu prédio. Perdeu o vampiro de vista. Quem sabe fosse tudo sua imaginação?

Mas ele apareceu de repente na mesma calçada, a alguns metros à frente. A capa preta rodava ao sabor do vento da tempestade que se aproximava. Claudia parou ao vê-lo e perdeu o equilíbrio, se estatelando na calçada. O joelho sangrou. O vampiro não podia ver aquele sangue...

Os cabelos compridos dele emolduravam um rosto forte e de traços marcantes. Claudia pôde escutar o coração batendo acelerado ao mesmo tempo em que dizia para si mesma “não olhe para ele, não olhe para ele.” Um pedido praticamente impossível. O desgraçado era lindo demais.

Ainda assim Claudia fez um esforço enorme e conseguiu ficar em pé. Atravessou a rua e foi parar do outro lado. O uivo do vento era aterrador e seu prédio ainda estava um pouco distante. Tinha dúvidas se conseguiria chegar até lá. O vampiro não parecia estar disposto a permitir isto.

Claudia recomeçou sua corrida, agora com mais dificuldade, puxando uma perna. Não havia ninguém na rua, nenhum carro passava. Quando entre lágrimas conseguiu fixar seus olhos à frente, identificou Lara. A irmã lhe acenou ou algo parecido. E sumiu nas sombras da noite.

- Lara! Lara, me espere!

O vampiro desapareceu, Claudia reparou olhando de soslaio para os lados. Ela tentou respirar enquanto chorava. Tentou gritar mais uma vez, porém a voz saiu fraca demais:

- Lara, diga que não é verdade!

Claudia deu mais alguns passos, sentindo o sangue escorrer pela perna. O vampiro apareceu outra vez, acompanhando-lhe do outro lado da rua. Por mais que ela corresse, a criatura estava sempre ao seu lado, com passos calmos. Algumas vezes Claudia caiu e esfolou as mãos. Nestes instantes horríveis teve certeza que o vampiro iria saltar sobre ela e cravar os caninos afiados no seu pescoço. Contudo, isto não aconteceu. Aos trancos e barrancos, Claudia finalmente chegou à entrada do prédio, cansada e machucada. O porteiro a encarou da recepção. Era a primeira pessoa que via desde que saíra atrás de Lara.

- Por favor, me ajude – implorou Claudia aproximando-se dele. – Ligue para a polícia e diga que…

O homem sorriu para ela. Mas aquele não foi um sorriso normal. Os caninos se destacaram nos cantos da boca e ele fez menção de tocar em Claudia.

Ela gritou. O berro ecoou pelo prédio, mas ninguém veio ver o que era. Talvez todos seus vizinhos já estivessem sido transformados em vampiros. Este pensamento aterrorizou Claudia, que tomou o rumo do seu apartamento temerosa do que iria encontrar. Se não fosse por sua mãe, jamais colocaria os pés lá novamente. Ainda tinha esperança de salvá-la.

A porta foi aberta bruscamente. A sala estava vazia e com todas as luzes acesas. Julia apareceu sorridente vinda do quarto.

- Oh, querida! Como demorou!
- Eu não encontrei Lara, mãe… - mentiu ela, pegando-a pelo braço. – Venha, temos que ir embora daqui.

Julia, porém, resistiu. Soltou-se de Claudia e replicou muito feliz:

- Agora está tudo bem, Claudinha. Você não precisa mais se preocupar com Lara.

Claudia empalideceu. Lara apareceu de repente ao seu lado e colocou uma das mãos no ombro da irmã. Claudia deu um pulo para o lado. Lara estava gelada.

- Onde você esteve o tempo todo? – sussurrou Claudia recuando alguns passos.

Lara sorriu e Claudia reparou nos caninos. Eles estavam crescidos. Em pânico, olhou para a mãe e gritou:

- Mãe, ela é uma vampira! Vamos embora daqui!

Julia sorriu e desta vez Claudia percebeu que tudo estava perdido. Os caninos da mãe pareciam mais pontiagudos que os de Lara. Jamais poderia lutar contra duas vampiras.

- Afastem-se de mim! – bradou Claudia colocando uma das mãos dentro da blusa. O crucifixo estava pendurado no pescoço. Mais um pouco e…

Lara se aproximou de repente, mas Claudia foi mais rápida. Estendeu a cruz em direção a ela, colocando-a muito próximo da testa da vampira. Tanto Julia como Lara soltaram gritos pavorosos, encolhendo-se no chão. Aquela era a chance, pensou Claudia. Tinha que aproveitar a chance em que elas estavam abatidas para sair correndo dali.

Claudia voltou-se para a porta, pronta para desaparecer daquele inferno e nunca mais voltar. Não deu sequer dois passos. O choque com o vampiro foi tão forte que Claudia caiu desmaiada no outro lado da sala.



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