No
outro dia eu não passei na casa de Gabi. Simples, não me senti disposta. Por
causa disto ela chegou depois de mim, quando eu já estava comodamente sentada e
com cara de bunda. As putas ainda não haviam aparecido.
Gabi
desabou ao meu lado, largando a mochila na mesa fazendo um barulhão.
−
Fiquei esperando você!
Olhei
tão friamente para ela que Gabi se encolheu.
−
Ontem à tarde também fiquei te esperando para nós estudarmos.
Parece
que somente naquele momento Gabriela se lembrou da nossa combinação.
−
Oh, Paula... Eu acho que…
−
Ok, tudo bem. Estudei sozinha.
E
encerrei o assunto. A prova era logo no início da aula e não olhei mais para a
cara dela. No intervalo Gabi ficou em cima de mim, tentando me agradar. Eu até
estava disposta a perdoar, pois era nítido o empenho de Gabi em desfazer a
cagada que tinha feito. Quando começou a aula de educação física tudo foi por
água abaixo. Mais uma vez.
A
professora resolveu montar dois times de vôlei. Tentei ficar de fora, mas fui
sumariamente convocada pela professora para ficar no time “B”. Detestava
aquilo. E a situação piorou quando na outra equipe se juntaram Sarah, Vanusa e
Gabi. Seria eu contra elas. Minha chance de vingança, pensei. Ainda não sabia
como, mas alguma atitude eu precisava tomar, mesmo jogando muito pouco.
O
jogo começou e percebi Vanusa e Sarah me olhando. Elas cochicharam alguma
coisa. Saquei o que era. As duas sabiam que eu não era boa jogadora e se
concentrariam em mim. Não me deixei abater. Eu estava furiosa com aquilo. E
quando ficava brava, também me sentia mais forte.
Na
primeira jogada a bola veio forte na minha direção, mas defendi bem. Arranquei
elogios da professora e das minhas colegas e me empolguei. Decidi que nenhuma
delas, incluindo Gabi, seriam capazes de me derrotar. E fui em frente.
Logo
que pude acertei duas bolas fortes sobre Vanusa e consegui os pontos. Ela
queria meu fígado e, pelo visto, Gabi também. Não fiquei surpresa quando
Gabriela chegou perto da rede e falou irritada:
−
Pegue leve, Paula!
−
Preocupe-se com seu time, entendeu?
Gabi
ficou muda e vermelha de raiva. Ela não fazia uma partida boa. Para finalizar,
fiz o último ponto em cima de Gabi e ganhamos o jogo. Enquanto comemorávamos,
Gabi pegou a mochila e sumiu. Era o último período. Não sei se ela se mandou
com Sarah e Vanusa, porém mais uma vez fui embora sozinha para casa. Apesar de
eu ter me vingado, não me sentia muito feliz.
Era
sexta-feira. Nós passávamos o final de semana sempre juntas. Meu sexto sentido
me alertou que daquela vez minha única companhia no sábado e no domingo seria a
internet.
*
Foi
um final de semana estranho. Não sabia o que era não ter companhia, pois estava
acostumada demais a ficar com Gabi, falando besteira, indo ao shopping ou ao
parque e trocando confidências. De repente eu não tinha ninguém para conversar.
Minha mãe percebeu que algo estava errado quando sábado à tarde se deparou
comigo em casa, emburrada, no sofá. A internet já havia me enjoado. Eu já tinha
visto tudo na rede mundial. E me sentia agoniada por não ter o que fazer.
−
Ué, você não vai se encontrar com a Gabi hoje?
Olhei
para minha mãe. Subitamente me senti envergonhada. Não queria contar para ela
que havia sido trocada. Não queria também que minha mãe ficasse com peninha de
mim.
−
Nós… nós nos estressamos.
Foi
o máximo que consegui dizer e não chegava a ser uma mentira.
−
Mas qual o motivo?
−
Besteira, mãe. Outra hora nós nos acertamos. Quer saber? Vou dar uma volta de
bike.
Enquanto
pegava minha bicicleta para dar uma espairecida, me perguntei se um dia
realmente nós voltaríamos a ser amigas como éramos antes.
*
Meu
final de semana só não pior porque eu não permiti. Pedalei muito. O exercício
me fazia bem. No domingo à tarde andei de bicicleta por duas horas com meu pai.
Até consegui esquecer Gabi. Porém, quando cheguei em casa, não aguentei de
curiosidade. Era quase noite, eu nem havia tomado banho. Fui direto na página
de Gabi conferir se ela tinha postado alguma coisa. Eu esperava ansiosamente
que não.
Havia
novidades por lá.
Várias
fotos de Sarah, Vanusa e Gabi no shopping e na praça jogando vôlei estavam
recebendo um monte de curtidas e comentários. Eu própria fiz um comentário
maldoso que resolvi apagar antes de publicar. Não valia a pena. Não valia
mesmo.
A
raiva me consumia.
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